Queridos, apesar da minha mãe ter abraçado o projeto fronha vagonite (tendo inclusive carregado com ela para sua cidade, para terminar a segunda), este anda meio parado. No sábado, tentei comprar um percal no mesmo tom, para confeccionar a fronha e aplicar o bordado, mas não consegui encontrar o tom certo e acabei comprando um bege muito claro, que não ficará legal... Além disso, me arrependi de não ter feito o projeto no tecido branco, que teria ficado mais interessante.
Acho difícil encontrar um tecido 100% algodão na mesma cor do tecido de vagonite que é quase um café com leite. Acho que vou procurar uma listinha, para a parte de trás das fronhas. Fiquei com uma sensação de fracasso e acho que isso se deve à falta de planejamento inicial. Tenho a terrível mania de me empolgar com os projetos e começar a trabalhar antes de ter todos os materiais definidos e/ou comprados. Isso, às vezes, me leva a deixar projetos inacabados ou, como neste caso, é necessário despender uma energia imensa para “consertá-los”...
Ontem de madrugada terminei o vagonite – sim, acho que estou vivendo intensamente este momento vagonite que parece que não vai passar nunca... – de uma capa para garrafão que considerei um fracasso com relação à escolha das cores. Apesar de serem bonitas – prata, cinza, rosa, vinho e preto – e até combinarem bem entre si, não gostei muito do resultado final, achei meio careta... Não ficou com a cara “boudoir” que eu imaginei... Agora, vou terminar a costura e guardá-la. Para meu uso, estou pensando em bordar – com vagonite e pontos livres – um lindo galho de cerejeira com borboletas. É enorme e temo pelo tempo para sua conclusão, já que ainda tenho pendente a colcha bege... De vez em quando vou lá e coloco uns pontinhos, mas nada de me dedicar seriamente à sua conclusão.
Ontem eu fazia uma reflexão sobre a urgência que às vezes impomos às coisas, mas que justificamos como se fosse uma urgência das coisas sobre nós. Estava com uma importante atividade para terminar no meu trabalho e nada de conseguir me concentrar para concluí-la. Sempre surgiam novas prioridades ou, ao tentar começar, logo desanimava diante da quantidade de coisas... Os prazos estavam correndo e comecei a me angustiar, mas sem conseguir converter essa angústia em ação. Um belo dia, de uma tacada só, praticamente concluí a tarefa.
Era aquele o momento, não antes. Muitas vezes, não respeitamos o tempo das coisas e julgamos que podemos controlar todos os aspectos da nossa vida. Aí as coisas dão errado e as frustrações vão solapando nossa resiliência, nossa criatividade.
Somos educados de modo a acreditar que, se quisermos, temos todos os cordéis da nossa vida - e das vidas daqueles que se relacionam com a gente - nas mãos. Até mesmo o tempo parece controlável. Antes que os adeptos do método e da sistematização comecem a protestar, eu não estou defendendo a inexistência de horários ou prazos. Apenas questiono, cada dia mais, a nossa servidão em relação a urgências. O nosso tempo parece mais curto em relação ao passado por que nos impomos montanhas de tarefas desimportantes, conferimos-lhes urgências exacerbadas e nos sentimos mal de termos tempo para... nada! Tempo para pensar, para criar, para desanuviar a mente, para sentir ou fazer aquela atividade que não está diretamente ligada à sua formação ou à sua profissão.
Comecei a me questionar sobre a necessidade de ostentar níveis impossíveis de produtividade quando isto começou a prejudicar minha saúde e me vi tomando calmantes para suportar a rotina estafante. Minha experiência é comum à maioria das pessoas, não é novidade ou um grande drama. Mas até este tipo de constatação é preocupante. Levei um tempo para aceitar que havia um adoecimento com o qual eu não sabia/podia lidar e que era inadmissível “morrer” por algo que deveria ser fonte de satisfação, crescimento, amadurecimento...
Não vou ficar fazendo apologia dos trabalhos manuais por que este é o meu caminho e não “o” caminho. Cada um acha o seu, se puder e tiver discernimento. Para mim, fazer algo com as mãos – por prazer, com diversão – é algo que me energiza, me afasta do modelo padrão esperado para as pessoas da minha formação e me dá um “gostinho de transgressão”... Surpreender alguém num mundo tão homogêneo e massificado é sempre um luxo.
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