Eu não sei quanto a vocês, mas quando eu era criança e, mesmo adolescente,
não comprávamos roupas tão facilmente... Comprávamos tecidos que virariam
roupas, feitas por nossas mães ou pelas costureiras de confiança da família.
Não havia as lojas de departamento e a “fast fashion”, da qual sou
adepta hoje.
Normalmente, escolhíamos os tecidos e copiávamos modelos dos conhecidos,
das revistas, das novelas ou, ainda, criávamos os modelos. A arte de escolher
tecidos era complexa. Com propósitos distintos, haviam tecidos para o dia e
para a noite, para os diferentes usos que as roupas teriam.
Escolher bem o tecido era metade da tarefa de ter uma roupa boa e durável.
E quando a costureira não acertava na confecção da roupa, lamentava-se o tecido
desperdiçado... lol
Hoje, entro numa grande loja e saio com sacolas de roupas prontas, do
tamanho exato, com as cores e modelos da última semana da moda, feitas por
costureiras da China, de São Paulo ou da periferia de Fortaleza. Não vou entrar
no mérito da comodidade, fato inquestionável, mas sentia uma pontada de
nostalgia quando passava pelas poucas lojas de tecido remanescentes.
Semanas atrás, resolvi ir ao centro da cidade para comprar tecidos para os meus
trabalhos, por indicação da minha irmã que fora e ficara encantada com a
variedade. Sábado cedinho, cheguei à rua ainda tranqüila. Como é que pode?
Havia uma rua inteira de lojas de tecidos que eu nunca vira!!!
Andei bastante de loja em loja, escolhi diversos tecidos, em composés.
Gastei mais que o previsto, fiquei mais satisfeita que o previsto. Perdida
entre a enorme variedade de cores e estampas, fui transportada novamente à
infância, sentindo o cheiro característico do tecido novo, tocando as diferentes
texturas.
Meus olhos deviam estar brilhando como os olhos dos meninos brilham nas
lojas de brinquedos! Ainda tive a sorte de ser atendida por um senhor muito
amável, que já devia ser maduro quando eu era criança... lol
Como comentou lindamente a Andréa nesse texto incrível, os fiapos dos
tecidos da minha infância estão emaranhados aos fiapos da minha memória e eu
concluí que o meu amor pelos tecidos vem de longe. Vem talvez das noites em que
minha mãe costurava até tarde da noite, das minhas próprias experiências na
máquina de costura, do barulho característico da tesoura cortando o tecido.
Estas foram, para mim, experiências fundantes. Quando, hoje, ao trabalhar
em casa, vejo a sala cheia de fiapos e retalhos, sou criança de novo. Pela
quantidade de tecidos que comprei, vocês já podem imaginar o tamanho da minha
empolgação, não é mesmo?