sábado, 20 de novembro de 2010

Legos, Pingüins e “Amélias”


Legos e pinguins são as duas maiores paixões do Gui, nesta ordem, exatamente. Ontem, quando cheguei em casa, ele tinha reproduzido um pingüim e seu pet, cuja espécie chama-se “puffle” (de acordo com Club Penguin) com suas pecinhas de lego! Achei que merecia um registro pela capacidade de abstração.

O pinguim (à direita), levando seu puffle na coleirinha...

Pra variar, fiquei pensando em o quanto a maioria das pessoas vai perdendo essa capacidade, muito própria da infância, quando cresce. Os meninos criam mundos e situações as mais diversas com seus legos e outros brinquedos, vivem aquelas realidades e, com isto, vão estruturando suas perdas, alegrias, suas personalidades. Brincar é bom demais mesmo.

Quem faz craft, na minha modestíssima opinião, tenta, de certa forma, reviver este mundo infantil e, por este motivo, encontra tanta satisfação.

As pessoas que não me conhecem direito normalmente se espantam: “Mas você borda???” A palavra “borda” sai assim pronunciada com um misto de incredulidade e desqualificação, como se bordar fosse coisa de mulheres de antigamente, submissas, sem formação ou capacidade técnica para ocuparem postos de Presidente da República, por exemplo.

Antes eu ficava meio chateada. Hoje, apenas rio e respondo: “E além de bordar, escrevo sobre isso no Linhas Matizadas!” Novo espanto.

Percebi que as pessoas que se espantam desconhecem a importância do craft para a economia e para a vida de milhões de pessoas em todo o globo. Uma rápida pesquisa na internet e veremos que as coisas mais antenadas e descoladas têm um toque hand made e que, cada vez mais, essa é uma estratégia de personalização e diferenciação, contra a massificação e a industrialização dos gostos e afetos.

Óbvio que podemos justificar tudo de ruim que fazemos ou deixamos de fazer pela falta de tempo. Se como mal, é por que estou na correria. Se escolho o que visto por que alguém disse que é legal é por que não consigo nem pensar sobre o que me agrada, cai bem, etc. Se não pratico atividade física por que não tenho tempo, certamente vou ter tempo de tomar todos os remédios que o médico prescreverá...

Enfim, prefiro ser “Amélia” e fazer e viver coisas mais saudáveis, pro corpo e pra mente, trabalhos manuais incluídos. E prefiro que os meninos cresçam acompanhados de muitos legos, pingüins, fantasia, alegria, capacidade de imaginar e inventar, pra ser gente grande melhor e mais humana. 

*****

Legos and penguins are the two biggest passions of the Gui, in that order. Yesterday, when I got home, he had played a penguin and "his" pet, whose species is called "puffle" (according to Club Penguin) with their little pieces of lego! I thought it deserved a record by the capacity of abstraction.

I was thinking about how most people will lose this ability when grows. The boys create worlds and the most diverse situations with their Legos and other toys, live those realities and, thus, will structuring their losses, joys, their personalities. Play is too good even.Who does craft, in my modest opinion, tries to somehow revive this child's world and, therefore, finds as much satisfaction.

People who do not really know me usually are surprised: "But do you do embroideries???" The word "embroideries" goes well spoken with a mixture of disbelief and disqualification as if it were embroidering women's thing of the past, submissive, uneducated or technical incapacity to posts of President of a country, for example.Before I was a bit annoyed. Today, I only laugh and say: "And in addition to embroidery, I write about it in Linhas Matizadas!" New amazement.

That people doesn't know anything about importance of craft to the economy and the lives of millions of people around the globe. A quick search on the internet and see that hip things has a hand made touch and, increasingly, this is a strategy of customization and differentiation, against industrialization and massification of tastes and affections.

Obviously we can justify all the bad things that we do for lack of time. If eat bad, is why I'm in a hurry. If I choose what I wear because someone said it's cool is that I can not even think about what I like, looks good, etc.. If you do not practice physical activity because you have anytime, I'll certainly will have time to take all medications that your doctor will prescribe...

Anyway, I prefer to be "Amélia" and do things and live more healthy, crafts included. And I prefer that boys grow up together with many Legos, Penguins, fantasy, joy, ability to imagine and invent, to be adults better and more humane.

OBS: "Amélia" is the name of an old brazilian song, that values the woman who only takes care of home and the husband . Represents a submissive woman.


7 comentários:

Joana disse...

Simone, tu nem fazes ideia (ou se calhar ate fazes...) o quanto me identifiquei com este post, sobretudo, com a este paragráfo:

"As pessoas que não me conhecem direito normalmente se espantam: “Mas você borda???” A palavra “borda” sai assim pronunciada com um misto de incredulidade e desqualificação, como se bordar fosse coisa de mulheres de antigamente, submissas, sem formação ou capacidade técnica para ocuparem postos de Presidente da República, por exemplo"

Até já pensei em fazer um post, assim, identico a este teu! =)

Já ouvi frases pateticas, do género:
"Não tens estilo de quem borde" (esta é a mais comum!)
"Nunca pensei que fosses uma fada do lar"
"Ponto cruz?! Quadros religiosos e toalhas de flores?!"
"Até parece que não tens mais nada do que fazer"
"Nunca pensei que te dedicasses à costura!"

Enfim...

...mas felizmente, tenho quem se orgulhe e reconheça os meus pequenos pontos fishinhos! ;)

Atelier Caseiro disse...

Simone, super concordo com o que escrevestes, parece que o mundo craft é um mundo a parte!
Se é não sei, mas nele sou muito feliz!
Viva os legos, os bordados e a criatividade =) Bom final de semana!

Unknown disse...

Joanita, também ouvi coisas piores, mas sempre relevo, por que bordar ou fazer qualquer trabalho manual é o que conserva minha sanidade mental nos momentos mais turbulentos. Obrigada por suas palavras carinhosas e por seus pontos fishinhos! xoxoxoxox

Aninha, também adoro tudo craft e handmade, incluído aí lindos lacres de cera pink! Sensacional! Bom fim de semana para você também! xoxoxoxoxoxox

Gislene Ellery disse...

Particulamente até tiro onda com essa historia de bordar e quando alguém se espanta ao saber que faço ponto cruz. Acho graça e digo: "Bordo sim! E adoooooooro! E você? Nao borda nada?" :-P
Comentando com um amigo sobre o nosso alfabeto da MS, ele disse que sentia certa inveja de nós, por termos "algo pra fazer". Achei ótimo! Ter o que fazer é mega-necessário. Uma questão de sanidade mental! kkkkkk
Beijos!!!!

Janaina disse...

Eu não teria descrito melhor! Sinceramente! Já ouv "Tu bordas? Nossa... não tens cara de quem borda!" também! Como assim? Tenho cara de que então?
Felizmente foram poucas vezes. Na maioria das vezes as pessoas abrem a boca e admiram e dizem "nossa, muito complicado para mim. Exije muita paciência, né?".
Bj grande no artista da casa!
J.
ps: as sapatilhas lá no meu blog não fui eu quem crochetou, Simone! Hee hee... Foi a Erika! Eu encomendei nela! Eu estou apenas aprendendo a crochetar, mas espero no futuro poder tentar uma coisinha daquelas! =)

♥ Nia disse...

Pois eu adoro ser uma Amélinha :) E sou pequenina porque continuo a manter a criança que há em mim :) heheheh

Em Portugal ainda há menos pessoas a bordar do que no Brasil, imagina como esse espanto do 'você borda?' aumenta exponencialmente por aqui! Mas estou feliz com o facto de que o artesanato, em geral, tem vindo a aumentar no meu país. Já vemos mais ateliers e workshops, coisas que antigamente seria bem dificil de encontrar. Ou seja, mantenho o meu bordado que trago desde a infância e já lhe acrescentei a découpage, o needle felting, até a costura :)

Entre as pessoas com quem convivo, familia e amigos, sou a única que faz assim artesanato. Sempre elogiam mas espantam-se com a 'paciência', acham que é preciso muita dose de paciência para se fazer algo do género. O que eu sempre explico é que funciona ao contrário, bordar é uma terapia que relaxa do stress e me dá paciência para as outras coisas ;)
E ser criança, ser criança é tão bom! Eu por várias vezes comento que parei de crescer algures no tempo. Não há nada mais saudável ;)

Feltro no capricho disse...

Simone... arrasou nesse post....e sabe o que mais? Fico triste de ver hj em dia cada vez menos meninas se interessando pelo bordado....pela costura....eu sempre incentivo(lá no meu blog bordando e pensando) as pessoas acharem alguma coisa de que gostem para fazer como hobbie,pra que as mentes possam ser sãs....E tb passei já passei por esse descaso com meu bordado..eu bordo sim,com muito orgulho......
e falo disso no meu blog tb!!!!kkkkkkkkkkk
Posso divulgar seu post no meu twitter?
Bjinhos....


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