Compartilho com vocês hoje mais um projetinho concluído: o
conjunto de toalhas rosa, para a minha sobrinha, a Clarice, com motivo de
patchwork em ponto cruz. Não ficou delicado?
As cores das letras eu as alterei em relação ao esquema,
para que ficassem bem diferentes umas das outras. O design dos corações veio da
revista Crazy Cross Stitch, escolhido por que tinha o mesmo estilo, uma
feliz coincidência. Gostaram do resultado?
E por falar em corações partidos e remendados, nem sempre é
fácil enxergar na gente mesmo o que carregamos de escuro, torto, ruim... É tão
mais fácil ser luz, brilho, beleza... Mas esse ano eu, por diversas vezes, tive
que me olhar no espelho e me ver cruamente. Em outras ocasiões, pessoas
queridas mostraram as suas facetas mais escuras, deixando meu coração um pouco
mais remendado...
Bom, pra não esquecer que precisamos todos, de vez em
quando, baixar a nossa bola, vou deixar o grande poeta Fernando Pessoa falar o
que por vezes tenho sentido. Mas vou logo pedindo desculpas aos leitores de
outras línguas, por que não me arvoro de traduzir um poeta dessa grandeza nem
por um milhão de dólares! ;-) (Por favor, usem o Google Translate neste caso).
Feliz Ano Novo, com saúde e paz no coração. Que você possa
se enxergar bem de perto, e, se enxergando, que você possa se reinventar, já
que toda glória vem da ousadia de começar.
POEMA EM
LINHA RETA
Álvaro de
Campos (Pseudônimo de Fernando Pessoa)
Nunca
conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas
vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente
que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Quem me dera
ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou
farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só
eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as
mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
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All glory comes from daring to begin (or broken, stitched, patched hearts...)
I
share with you
today a new
complete project: the set of pink towels for
my niece, Clarice,
with motive of patchwork
in cross stitch. It was not delicate?
The
colors of the
letters I've changed in relation to the
scheme, to make them very different from each other. The design of hearts came from
Crazy Cross Stitch Magazine, chosen because
they had the
same style, a
happy coincidence. Did you like the final result?
Into the subject of broken and patched
hearts, it’s not easy to see in
ourselves what we carry dark, crooked, bad
things... It's so more easy to be light,
brightness, beauty... But this year I had to
look in the mirror
and see myself bluntly,
several times. At other times, nice people showed their
darker sides, leaving
my heart a little
more patched...
Well, it’s necessary to say we need, from time to time,
revising our concepts. So, I let the great poet Fernando Pessoa to speak that I
have felt. But I want to apologize to readers of other languages because it’s
impossible to me translating a poet of that magnitude. I won’t do this even for
a million dollars! ;-) Please, use Google Translate in this case, ok?
Happy New Year, with health and peace in your heart. I hope you can see yourself well up close, and,seeing that you can reinvent yourself, because all glory comes from daring to begin.