Meus filhos herdaram de mim um gosto incomum por palavras.
Ambos utilizam o vocabulário de maneira muito particular para expressar seus
sentimentos: o Gui, mais comedido, quer saber o significado de tudo ou a
tradução para outras línguas; o Rafa, mais solar, ao ver qualquer diálogo
iniciado, acha que se omitir é pecado mortal e tem sempre uma opinião na ponta da
língua ou o indefectível “deixa eu falar!”.
Ontem, eu e o Gui conversávamos sobre a beleza das
palavras. “Qual a palavra que tu acha mais bonita, mãe?” “Ah, filho, existem
tantas palavras legais... por exemplo: ignóbil.” Espanto. “O que é isso?” “É o
mesmo que burro, filho.” “Ah, ta...” (Aqui, cabe uma explicação: dei uma
forçada no significado literal da palavra para aproxima-la da compreensão dele,
que tem seis anos apenas. Como eu explicaria como é ser “sem nobreza ou abjeto”
para o Gui?? Ficou pra próxima...)
E continuamos: “E você, meu filho, qual sua palavra
preferida?” De bate pronto: “Estupendo”. Levei alguns segundos para me
recuperar. Que palavra sensacional! Como a usamos pouco! Admirei profundamente
o meu pequeno naquele momento. “Eu gosto muito de esplendido”, falei, não sem certa
timidez. “O que é esplendido?” Ele quis saber. “O mesmo que estupendo, oras!”
Satisfeito com a explicação, correu pros seus brinquedos e nem me deu chance de
comentar que ambas as palavras eram “irmãs” de uma das palavras preferidas do
meu pai, a bela “formidável”...
No sábado, visitei a exposição Traço Ponto Arte, que
sintetiza o encontro feliz dos artistas plásticos Wilson Neto (http://www.wilsonneto.com/wn/) e Vera Dessart.
Ele, dono do traço e das tintas, ela, senhora das linhas e cores, criaram
juntos treze telas que unem, de uma maneira muito delicada, a pintura e o
bordado, em suas diversas expressões.
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A obra que mais gostei: "Amigos" |
Eu fico extasiada quando vejo o bordado alinhar-se a outras
formas de expressão artística, em altíssimo nível, como nesta exposição. Penso
que a visão utilitária que a maioria das pessoas tem do bordado contribuiu para
que este perdesse, ao longo do tempo, a capacidade de ser valorizado como arte per
si. Nada contra decorar nossas casas com capas de almofadas, fronhas e
colchas. No entanto, é formidável perceber que o bordado pode ser mais que seus
diversos usos. É arte, expressão da cultura dos povos desde tempos imemoriais
e, nele, podemos nos reconhecer e nos transcender.
O trabalho dos dois artistas me emocionou demais. Fiquei feliz por longas
horas. Quando comentei com amigos sobre a felicidade que sentira, havia uma
única palavra para resumir a exposição: estupenda. Obrigada, Gui.